domingo, 19 de maio de 2013


DÉCIMO SÉTIMO DIA:  CALZADILLA DE LA CUEZA / SAHAGUN /LEON / ASTORGA


Mesmo com o anúncio de um dia ensolarado, estava muito frio.
A surpresa do dia foi reencontrar nossos amigos brasileiros Diego e Stella que iriam caminhar mais 16 km depois de Sahagun. Matamos as saudades, falamos de nossas aventuras até então e das nossas dores do caminho.

No caminho vimos esse visual e o Alexandre só teve sossego depois que descobriu o que era.


Ao desviar o caminho para descobrir o que era a misteriosa casa, viu essa escultura que gostou muito.


Sobre o mistério, são adegas! Um lugar bem legal que tem um restaurante encravado na pedra.

Chegamos a Sahagun!


Neste momento tínhamos  que tomar uma decisão importante em nossa jornada.

Continuar e colocar em risco nossa missão ou fazer uma parada de descanso para recuperar as dores do caminho.

Depois de uma análise chegamos à conclusão de que tínhamos que dar uma parada na caminhada para se recuperar e também preparar a mente para seguir pelas mesetas. Ainda tínhamos pela frente muitas retas com a mesma paisagem.


A decisão foi parar de caminhar fisicamente mas não parar no caminho. Pegaríamos um trem e ficaríamos um dia sem fazer grandes caminhadas.

Pegamos o trem para Leon. Perfeita organização, trem limpo e no horário.


Chegando a Leon já sentimos a diferença; cidade grande, prédios, vasto comércio, pessoas andando na rua.


Optamos pelo albergue das beneditinas, maravilhoso! O problema é que homens dormem de um lado e mulheres do outro.

 A segunda surpresa do dia foi reencontrar Sheila, Luís e Neide. Albergue muito bem organizado e as hospitaleiras sempre a sua disposição. Logo que ficaram sabendo das bolhas nos pés da Ana foram logo preparando os cuidados.


A cidade de Leon é enorme e muito bonita. Adoramos tudo. Durante a noite as freiras nos deram suas bênçãos. Assistimos a missa cantada que foi emocionante. As palavras de carinho com os peregrinos faladas em várias línguas concluiu com chave de ouro.


O jantar foi na praça. Sensação ótima de liberdade!


No dia seguinte só pegaríamos o trem para Astorga à tarde. Tivemos toda a manhã para passear por Leon na presença de nossos amigos brasileiros. Foi uma manhã animada em meio a chocolate quente, churros, piadas e boa conversa. Estava um friozinho gostoso.




Curiosidades do caminho:



Quando esperávamos o trem, um grupo de japoneses em excursão nos viu com as mochilas e todo nosso aparato de peregrino. Foi só dar um sorriso para iniciar os estalares de cliques das máquinas fotográficas. Alexandre e Ana, artistas por um momento. Mais risadas com a situação.


Nessa de aguardar o trem reencontramos muitos peregrinos que já passaram pelo caminho nesses últimos dias. Austríacos, Ingleses, Franceses, ...


O trem para Astorga confortável demais, foi impossível não tirar uma soneca.


Já em Astorga ficamos em um albergue que nos brindou com mais cuidados com os pés.

                                                    àgua muito gelada com sal

Ficamos encantados com a catedral. A emoção tomou conta quando entramos no palácio de Gaudí. Ana chorou muito em vários momentos da visita.





Á noite jantamos no restaurante El Capricho, onde fomos atendidos pelo Sr. Lorenzo. Ele nos apresentou suas delicias, indicou pratos e vinho, nos mostrou um livro muito valioso da cozinha espanhola ( custo de 3 mil euros) e fez de tudo para que saíssemos de seu restaurante encantados.


Podemos afirmar que Astorga vai deixar boas lembranças.






DÉCIMO SEXTO DIA:  VILLALCÁZAR DE SIRGA / CALZADILLA DE LA CUEZA – 22 KM

Saímos do albergue fazendo nossa doação. É comum encontrar albergue e outros serviços no sistema de doação.

Hoje foi o dia mais difícil do caminho até agora, depois de rodar uns 6 km, uma reta de 17 km sem fim, com a mesma paisagem, sol forte, sem um local ideal para se parar ou uma tenda de alimentação para comprar algo. Como já sabíamos desse percurso estávamos com alimento e água suficientes, confiantes de que tudo daria certo.
Ana optou por não usar as botas, fato que o Alexandre já estava fazendo há alguns dias e se sentia bem melhor da tendinite.

Entramos na temida reta e depois de andar uns 5 a 6 km uma barraca que parecia miragem. Um carrinho vendendo sorvete no meio do nada!
Foi tudo de bom! Deu-nos uma boa animada.
Foi duro, fizemos de tudo para passar o tempo, mas estava difícil demais.
Alexandre pegou um arame do cordão e tentou fazer uma dobradura até surgir uma figura. Dobrou tanto o arame que acabou quebrando. Ana ficava brincando com a sombra.
Cantamos, jogamos, ...Depois de muita criatividade levantamos o cajado que tinha a bandeira do Brasil na ponta e cantamos o Hino Nacional. Aí chegamos à conclusão de que estávamos chegando ao nosso limite. Rimos muito e ficamos algum tempo em silêncio.

O pior é caminhar sem deixar cair na monotonia, sem deixar o medo ou a vontade de desistir aparecer. É uma vitória diária para qualquer peregrino. Sair de uma cidade e chegar à outra é uma felicidade que temos todos os dias de caminhada.
Nossa parada nessa reta foi no caminho mesmo, sentamos no chão e no final foi um das melhores paradas. O silêncio, o vento, a companhia, o sol, tudo  é muito bom quando não estamos esperando muito.

A cidade que buscávamos ficava em um vale e só avistamos quando estávamos bem próximos. O Albergue era bom, tinha até piscina. O único problema era o banheiro que era comum a homens e mulheres. Fato que você vai se acostumando no decorrer dos dias.

O jantar foi especial. Mesa com franceses ( que só falavam em francês ), belgas e suecos. A comunicação não foi as melhores, mas teve comunicação com boas risadas. Comemos coxa de peru e feijão branco, tudo regado a um excelente vinho. Fim de um dia perfeito!




DÉCIMO QUINTO DIA:  ITERO DE LA VEGA / VILLALCÁZAR DE SIRGA – 30 KM

Em Itero ficamos no albergue La Mochila. Três peregrinos ocupavam o albergue. Ana, Alexandre e um peregrino que não era muito de conversar. Esse optou por ficar em um quarto exclusivo. O albergue era frio demais e chegamos com muitas dores e cansados. A cidade era minúscula e sem nada para conhecer. Como estava sol aproveitamos para descansar curtindo o sol.

Saímos cedo com um sol lindo!

 Caminho de retas sem fim, essa não é a pior parte, é só um aperitivo.

Ana estava com muitas bolhas mas  seguindo. Olha o cuidado dela com suas roupas. Todas limpinhas e secando durante a caminhada.

Reencontramos Matt, o Alemão e as americanas.
Boa parte desse caminho foi paralelo a estrada, pisando em pedras pequenas que machucam os pés, e o sol estava forte.

Curiosidades do caminho:
Durante o caminho vimos nos telhados das igrejas ou em qualquer outra ponta os ninhos de garça.

Quando entramos nas cidades maiores...
O caminho é repleto de imagens que lembram o peregrino.

Também se encontra bons lugares para sua parada.
 Em Villarmentero Ana deitou em um banco para descansar. Alexandre resolveu fotografas e ao dar alguns passos para trás quase caiu em um buraco. Num “movimento Ninja” gritou OSSSS e se reequilibrou...na sequencia Ana grita GUEDES.*
Passou a ser no grito de força durante o caminho.
"OSSS GUEDES"!
* Alexandre pratica um esporte de luta e quando necessita de força em uma luta utiliza um KIAI. O nome de seu principal mestre é Guedes.
Alexandre afirma que não deu grito nenhum e reclamava de que ela estava rindo em um momento em que ele quase se quebrou todo. Foram rindo durante todo o percurso lembrando e brincando com esse episódio.

As paradas eram sempre muito agradáveis e com sol ficava muito melhor.

Ao chegarmos ao nosso destino ficamos no albergue municipal onde o hospitaleiro Raul nos recebeu muito bem. Normalmente o hospitaleiro é voluntário e fica por 15 dias no albergue. Raul nos falou que era seu último dia e que depois iniciaria sua caminhada pelo trajeto primitivo.

 A cidade é pequena e a igreja está em péssimo estado. Pagamos uns euros para entrar e só valeu a pena pela imagem de Santiago que é muito bonita e diferente.